Antibióticos: relatório da OMS aponta queda do interesse da indústria global nas pesquisas

A indústria farmacêutica está enfrentando um dilema crítico, pois, ao mesmo tempo em que o número de mortes relacionadas às superbactérias resistentes aos medicamentos tradicionais atinge a marca alarmante de 1,2 milhão, a pesquisa de novos antibióticos está sendo abandonada. A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta sobre essa preocupante desconexão em seu relatório “Incentivando o Desenvolvimento de Novos Tratamentos Antibacterianos 2023”.

O relatório aponta que a quantidade de estudos dedicados a novos antibióticos é insuficiente diante da rápida propagação da resistência antibacteriana. Atualmente, a maioria dos antibióticos disponíveis no mercado são variantes de medicamentos desenvolvidos na década de 1980. A crescente resistência bacteriana implica que as bactérias se tornam resistentes mais precocemente, tornando os medicamentos obsoletos em um ritmo acelerado e diminuindo o interesse da indústria farmacêutica.

Quando os medicamentos ficam obsoletos muito rapidamente, o retorno financeiro para a indústria deixa de ser atraente. Em face dessa realidade, as principais empresas farmacêuticas recuaram significativamente no esforço de desenvolvimento de antibióticos. Esse cenário representa uma ameaça séria à capacidade de enfrentar eficazmente as infecções bacterianas e amplia a necessidade urgente de estratégias inovadoras e incentivos para estimular a pesquisa e desenvolvimento nesse campo crucial da saúde pública.

A queda nas pesquisas por inovação na área de antibióticos contrasta com o desempenho em geral do setor. O mercado farmacêutico brasileiro em geral continua a evoluir. A 6ª edição do Anuário Estatístico do Mercado Farmacêutico, divulgado em agosto pela Secretaria-Executiva da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (SCMED), oferece uma visão detalhada do panorama do mercado em 2022 e comparações históricas de 2020 a 2022.

Os dados revelam que a venda de medicamentos no Brasil gerou um faturamento de R$ 131,2 bilhões em 2022. Embora tenha havido uma redução de aproximadamente 3% em relação a 2021, quando o faturamento foi de R$ 135,2 bilhões, o setor enfrentou um encolhimento mais significativo em termos de quantidade de embalagens, registrando uma diminuição de mais de 5,8%, com 5,7 bilhões de unidades comercializadas em 2022 comparadas às 6 bilhões em 2021.

O documento também evidencia que, em 2022, foram identificados 4.748 produtos cadastrados e em comercialização no país. Dentre esses, 40,9% eram medicamentos genéricos e 29,1% eram similares, totalizando 70% do volume total de unidades comercializadas em 2022. Os demais tipos de produtos representaram os 30% restantes.

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