Novo marco do MEC restringe EaD na saúde

O Ministério da Educação (MEC) publicou um novo marco regulatório para o Ensino a Distância (EaD), que estabelece restrições significativas para cursos de graduação na área da saúde. Formações como Medicina, Enfermagem, Odontologia e Psicologia só poderão ser oferecidas presencialmente. Para os demais cursos da área, será permitido o modelo semipresencial, com exigências mínimas de atividades práticas presenciais, aulas síncronas e carga horária EaD limitada.

A decisão atende a uma demanda antiga de entidades representativas dessas profissões, que argumentam que a formação na área da saúde exige contato direto com pacientes, prática clínica e supervisão presencial. Em contrapartida, conselhos de outras categorias da saúde demonstraram insatisfação, defendendo que a restrição ao EaD deveria ser ampliada para todas as graduações do setor.

Pelas novas regras, cursos presenciais deverão ter até 30% da carga horária a distância. Já os cursos EaD precisarão garantir, no mínimo, 20% de atividades presenciais ou síncronas (ao vivo), além de provas obrigatoriamente presenciais. O modelo semipresencial, por sua vez, deverá contar com pelo menos 30% da carga horária em atividades práticas presenciais (como estágios e laboratórios), 20% em aulas síncronas e até 50% EaD. Instituições e estudantes terão até dois anos para se adaptar.

Apesar da limitação ao ensino remoto na saúde, a tecnologia continua sendo vista como peça-chave para o futuro do setor. Prova disso é o projeto em desenvolvimento pelo Ministério da Saúde, em parceria com o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), que prevê a criação do primeiro hospital digital do país, voltado para o atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Batizado de Instituto Tecnológico de Medicina Inteligente, o projeto pretende reunir tecnologias como inteligência artificial, telemedicina, big data, conectividade 5G e integração de sistemas. A unidade deve priorizar o atendimento em áreas críticas, como neurologia, traumatologia, emergências e cirurgias, e contará com cerca de 800 leitos. A previsão é que as obras comecem no final de 2026 e sejam concluídas em 2028.

O governo busca financiamento junto ao Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o Banco do BRICS, para viabilizar a iniciativa. Em março, uma comitiva brasileira esteve na sede do banco, na China, para apresentar o projeto e avançar nas tratativas.

No campo regulatório, o país também caminha para adotar oficialmente dois sistemas de classificação já utilizados internacionalmente: o MedDRA e o WHODrug. O primeiro, desenvolvido pelo ICH, padroniza termos médicos e eventos adversos em diversos idiomas, permitindo a avaliação global do perfil de segurança de medicamentos. Já o WHODrug, criado pela OMS e gerenciado pelo Centro de Monitoramento de Uppsala (UMC), reúne dados sobre cerca de quatro milhões de medicamentos e vacinas, e já é adotado em 152 países.

As medidas indicam uma tentativa de equilibrar inovação e segurança em um setor onde o avanço tecnológico é inevitável, mas onde a formação e o cuidado humanos ainda são insubstituíveis.

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