O Brasil deu um passo decisivo rumo à autossuficiência na produção de hemoderivados com a inauguração, no mês passado, da nova fábrica da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), em Goiana–PE. Com um investimento de R$ 1,9 bilhão, a unidade prevê o fornecimento de medicamentos essenciais ao Sistema Único de Saúde (SUS), representando também um avanço estratégico para reduzir a dependência de importações.

A planta terá capacidade para processar até 500 mil litros de plasma por ano e produzir seis tipos de medicamentos, incluindo albumina, imunoglobulina e fatores de coagulação VIII e IX, essenciais no tratamento de hemofilias, doenças raras, queimaduras graves e grandes cirurgias. A expectativa é que, até 2027, o país alcance a produção 100% nacional desses insumos.

A fábrica integra uma estratégia regional alinhada às diretrizes da OPAS, com o objetivo de ampliar a capacidade produtiva de plasma nas Américas e tratar esse material como um bem público de alto valor para a saúde. O plasma humano é uma matéria-prima biológica estratégica, e muitos de seus derivados constam na Lista Modelo de Medicamentos Essenciais da OMS.

Segundo o Ministério da Saúde, até 2027, a Hemobrás deverá produzir integralmente pelo menos seis hemoderivados — albumina, imunoglobulina, fatores VIII e IX plasmáticos, complexo protrombínico e fator de Von Willebrand — que serão fornecidos exclusivamente ao SUS. Com isso, mais de 30 mil pessoas com coagulopatias serão beneficiadas, além de milhões que dependem de albumina ou imunoglobulina para tratamentos diversos. Atualmente, a Hemobrás já abastece o SUS por meio de acordos de transferência de tecnologia.

Com a inauguração dos blocos B02 (fracionamento do plasma) e B03 (envase e liofilização) e a entrega dos equipamentos, a fábrica inicia a qualificação de processos, etapa obrigatória no setor farmacêutico. A expectativa é que, no próximo ano, a Hemobrás comece a fracionar o plasma, processo em que se extraem as proteínas que, após refinamento, se transformam nos medicamentos.

De forma escalonada, ano após ano, a empresa pretende ampliar o volume de plasma fracionado e a quantidade de medicamentos produzidos. 

Vinculada ao Ministério da Saúde, a Hemobrás atualmente recolhe plasma excedente de 72 hemocentros públicos e serviços de hemoterapia em todo o país. Esse insumo, que até hoje era enviado para processamento no exterior, passa a ter maior parcela de produção no território nacional, impulsionando a indústria de biotecnologia e fortalecendo ainda mais o Complexo Econômico-Industrial da Saúde.

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