O anúncio do presidente americano Donald Trump de taxar em 50% as exportações brasileiras para os Estados Unidos acendeu um sinal de alerta em setores estratégicos do país, e a saúde não ficou de fora. O Brasil não é um grande exportador de medicamentos e dispositivos médicos, mas a medida coloca em jogo o equilíbrio delicado de um setor dependente do exterior.
Para se ter uma ideia, a indústria farmacêutica brasileira exportou, em 2024, cerca de US$ 981,8 milhões, enquanto importou mais de US$ 12 bilhões. O setor de dispositivos médicos seguiu padrão semelhante: US$ 0,93 bilhão em exportações e US$ 5 bilhões em importações. Entre 2000 e 2024, os Estados Unidos foram a principal origem das importações de medicamentos, respondendo por 18% do total. No mesmo período, apenas 7% das exportações brasileiras tiveram como destino o país, que ocupa a quinta posição como mercado receptor.
O tema preocupa especialmente porque uma taxação de 50% nas importações de produtos de saúde dos Estados Unidos poderia onerar o Sistema Único de Saúde (SUS) e os planos privados, impactando diretamente a população. Mais de 70% dos insumos utilizados no setor vêm do exterior, tornando a saúde estruturalmente vulnerável a oscilações cambiais.
O impacto direto da medida americana atinge equipamentos médicos, alguns medicamentos e tecnologias hospitalares. Embora seja possível substituir fornecedores norte-americanos por asiáticos, especialmente da China, essa transição não ocorre de imediato, exigindo adaptações logísticas, regulatórias e contratuais. O setor de diagnóstico por imagem, dispositivos médicos e tecnologias hospitalares pode sofrer reflexos indiretos, principalmente com o aumento dos custos operacionais, pressionando prestadores de serviços e operadoras de saúde.
Em síntese, embora as tarifas possam ser compensadas por ajustes na origem das importações, a combinação de medidas protecionistas e a instabilidade cambial impõe desafios adicionais à cadeia produtiva da saúde. Entidades do setor avaliam que medidas do governo brasileiro, como a ameaça de quebra de patentes, podem ser usadas para pressionar os EUA a dialogar ou renegociar as tarifas.