O Hemocentro da Unicamp chega aos 40 anos em novembro. Quatro décadas de corredores movimentados, bolsas que entram e saem, e uma rotina silenciosa que se repete todos os dias sem jamais perder a urgência. A data coincide com a Semana Nacional do Doador de Sangue, de 24 a 30 de novembro, quando o país inteiro volta os olhos para o gesto que mantém vivos inúmeros tratamentos e cirurgias. Em Campinas, essa coincidência ganha peso. Os estoques continuam em nível crítico, e cada doador faz diferença.
A cidade tem uma demanda que não cessa. No Hospital de Clínicas da Unicamp, no Mário Gatti e no Vera Cruz, pacientes chegam diariamente precisando de transfusão. São casos de acidentes, procedimentos de alta complexidade, pessoas que enfrentam longos ciclos de quimioterapia, doenças do sangue que exigem reposição contínua. A necessidade é certa; o que varia é a oferta. Bastam alguns dias de feriado, um inverno mais rigoroso ou o recesso escolar para que os níveis caiam rapidamente.
Fala-se muito em falta, mas menos de 2% da população campineira doa sangue com regularidade, um índice insuficiente para garantir tranquilidade aos bancos de coleta. E, ainda assim, uma única doação pode beneficiar até quatro pessoas. Quando se olha o quadro de cima, o sistema se revela frágil e potente ao mesmo tempo. Depende de um gesto voluntário, mas transforma esse gesto em sobrevivência.
Em Campinas, quem decide doar encontra dois caminhos principais. O primeiro é o próprio Hemocentro da Unicamp, na Cidade Universitária, ao lado do HC, onde equipes trabalham de segunda a sábado, recebendo doadores e abastecendo hospitais de toda a região. O segundo é o Banco de Sangue do Hospital Mário Gatti, que, embora não funcione como ponto fixo de coleta, organiza campanhas em parceria com o Hemocentro sempre que os estoques apertam — algo que, nos últimos meses, tem sido frequente. Este ano, parte dessas coletas passou a ser realizada também no Hospital do Amor.
Para doar, não há mistério. É preciso ter entre 16 e 69 anos, pesar mais de 50 quilos e estar em boas condições de saúde. Documento com foto em mãos, alimentação leve e disposição para um processo rápido, seguro e acompanhado por profissionais. Menores de idade precisam de autorização, mas a doação segue o mesmo protocolo.
Campinas se tornou, ao longo dos anos, um polo de saúde. Recebe pacientes de toda a Região Metropolitana e, em muitos casos, de municípios que dependem da estrutura da Unicamp para realizar cirurgias e tratamentos especializados. Isso significa que o sangue doado na cidade não se limita às fronteiras municipais. Ele atravessa, chega a outras mãos, outras histórias.
No fim, a equação é simples e, ao mesmo tempo, decisiva. Para quem doa, são alguns minutos. Para quem recebe, pode ser a diferença entre interromper um tratamento ou seguir adiante; entre sobreviver ou não. Nos 40 anos do Hemocentro da Unicamp, a mensagem permanece intacta. Nenhuma celebração faz sentido sem lembrar que todo esse trabalho só existe porque alguém, em algum momento, decidiu estender o braço.


